domingo, 15 de junho de 2008

Eles, você e eu


Eles dizem a forma que você deve andar. Os ditadores dizem exatamente como você deve se portar sob o guarda-chuva.
Eles cantam as canções da moda para lhe arrancar sorrisos. Eles fingem ser compatriotas empunhando suas bandeiras no peito!
Apesar de tudo o que eles dizem que emociona, nada passa de um teatro mágico. Apesar de tudo, de tudo, ah ... que canseira!
Eles formatam idéias, vestem panos de saco para os casamentos e pura seda nos funerais.
Eles organizam equipes de líderes sensatos, corretos, cheirosos, que não discernem entre casa do Pai e chiqueiro de Porcos.
Eles mantém o dedo em riste, sob as páginas de Levítico e com olhares inflamados de ódio vomitam acusações disfarçadas de piedade!
Eles dizem o quanto que você precisa para ser aceito e lhe vendem favores que eram gratuitos.
E você, está ferrado, quanto ao amor.
E você, continua sendo o mesmo rejeitado, o mesmo Nerd Emo, que todos adoram ver despencar dos edifícios.
E você continua sendo a mesma moça das esquinas, vendendo o corpo em troca de carinho e a alma em troca de dignidade.
E você ainda não tem espaço entre os que foram teologicamente restaurados, e criaram uma casca de religião por proteção.
Você é apenas o travesti amaldiçoado por não ter tido chance de controlar seus hormônios.
O mesmo favelado sem a chance de ter sido o primeiro da turma de tele-sala, por ter que trabalhar pra ajudar sua mãe idosa.
Você continua, ferrado, quanto ao amor.
Eu sou a incoerência gritante, vandalizando os muros dos valores. Sou o chute no cachorro inocente, torturado pela coleira.
Sou a indiferença, tal Davi, que trocou harpas por armadilhas para auto justificação, colocando um amigo frente à morte.
Eu aponto a flecha aos olhos do inimigo paralizado pela minha mira, mas sou covarde demais pra fazer a ele o que prometi a mim.
Eu finjo batalhas organizando dinâmicas, prefiro o bem estar social do que os pés gelados nas estradas empoeiradas. Ah ...
Encontro enfermos pelo caminho, mas passo de largo, nessas horas não acredito na Parábola do Samaritano.
Meu ser nada pede além de felicidade, meus bolsos gritam para que tal felicidade seja por dinheiro. Tenho um caso com gazofilácios.
Eu me comporto nos templos, mas por dentro eu grito horrendas frases inflamadas de pessimismo. Ah, eu que só, que só ...
E por causa deles e por minha culpa, você está ferrado, quanto ao amor.
E por nossa culpa, você só poderá crescer caso um de nós abandone nosso conforto, corra e não impeça o teu aborto.
E você, não verá a cor da liberdade, enquanto eu e eles acharmos que suas veias furadas por seringas definem teu valor pra Deus.
E você, não terá como se esconder da chuva em noites frias porque eu e eles achamos que a nossa casa é só nossa por direito.
E por causa da nossa indiferença, você orará pedindo pelo menos alguém que vá ao teu encontro e achará que Deus não te ouve enquanto Ele ouviu e comissionou, mas nós, fracos, fingimos não ouvir e aceitamos não se importar!
Você chorará e encontrará a morte pelas madrugadas nas mesmas esquinas em que estamos trancafiados organizando acampamentos.
Por nossa culpa, você não será mais você.
Eles serão eles.
Eu serei eu.
Mas carregados do espírito que atua nos filhos da desobediência, não perceberemos que isso acontece todos os dias, enquanto mantemos os braços cruzados.
Que Deus e você nos perdoe e que a Graça e a Misericórdia nos faça, o quanto antes, acordar para saber que essa carapuça cabe certinho em nós e que a gente se deixe enforcar por ela até a morte da gente. Quando eu não vivo mais, Cristo vive em mim e você, vive comigo.
Esse é o Evangelho da Vida. E eu me envergonho de viver tão pouco.


* A todos quantos foram esquecidos, abandonados, reprimidos, torturados, maltratados, ultrajados, proibidos, mortos e deles não fizemos caso.
Gito
(http://gitox.zip.net/)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

NEOQEAV


Meus avós já estavam casados há mais de cinqüenta anos e continuavam jogando um jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar. A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra "Neoqeav" num lugar inesperado para o outro encontrar e assim quem a encontrasse deveria escrevê-la em outro lugar e assim sucessivamente. Eles se revezavam deixando "Neoqeav" escrita por toda a casa, e assim que um a encontrava era sua vez de escondê-la em outro local para o outro achar. Eles escreviam "Neoqeav" com os dedos no açúcar dentro do açucareiro ou no pote de farinha para que o próximo que fosse cozinhar a achasse. Escreviam na janela embaçada pelo sereno que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim que ela fazia com tanto carinho. "Neoqeav" era escrita no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra iria reaparecer depois do próximo banho. Uma vez, minha avó até desenrolou um rolo inteiro de papel higiênico para deixar "Neoqeav" na última folha e enrolou tudo de novo. Não havia limites para onde "Neoqeav" pudesse surgir. Pedacinhos de papel com "Neoqeav" rabiscado apareciam grudados no volante do carro que eles dividiam. Os bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e deixados debaixo dos travesseiros. "Neoqeav" era escrita com os dedos na poeira sobre as prateleiras e nas cinzas da lareira. Esta misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avós quanto da mobília. Levou bastante tempo para eu passar a entender e gostar completamente deste jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro. Porém, eu nunca duvidei do amor entre meus avós. Este amor era profundo. Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida. Seu relacionamento era baseado em devoção e uma afeição apaixonada, igual as quais nem todo mundo tem a sorte de experimentar. O vovô e a vovó ficavam de mãos dadas sempre que podiam. Roubavam beijos um do outro sempre que se batiam um contra outro naquela cozinha tão pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho bonito e charmoso. Ela se gabava de dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos. Antes de cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus e bençãos aos presentes por sermos uma família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e com boa sorte. Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avós: minha avó tinha câncer de mama. A doença tinha primeiro aparecido dez anos antes. Como sempre, vovô estava com ela a cada momento. Ele a confortava no quarto amarelo deles, que ele havia pintado dessa cor para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair. O câncer agora estava de novo atacando seu corpo. Com a ajuda de uma bengala e a mão firme do meu avô, eles iam à igreja toda manhã. E minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa. Por algum tempo, meu avô resolveu ir à igreja sozinho, rezando a Deus para zelar por sua esposa. Então, o que todos nós temíamos aconteceu. Vovó partiu. "Neoqeav"foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do funeral da vovó. Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela última vez. Vovô ficou bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a cantar para ela. Através de suas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro de seu ser. Me sentindo muito triste, nunca vou me esquecer daquele momento. Porque eu sabia que mesmo sem ainda poder entender completamente a profundeza daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem igual que aquilo representava. Aposto que a esta altura você deve estar se perguntando: "Mas o que Neoqeav significa?" Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você = "NEOQEAV"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um dia você aprende que...

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, que companhia nem sempre significa segurança, e começa a aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança; aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo, e aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... Aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais, e descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida; aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida, e que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que eles mudam; percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve compará-los com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde se está indo, mas se você não sabe para onde está indo qualquer lugar serve. Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se; aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou; aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha; aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens; pou8cas coisas são tão humilhantes... e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando se está com raiva se tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém; algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores, e você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
Descobre que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

William Shakespeare

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Laço e o Abraço

Nossa!!! Como é engraçado!...
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
Uma fita dando voltas? Se enrosca...
Mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em
qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E na fita que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então é assim o amor, a amizade, tudo que é sentimento? Como um
pedaço de fita?
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz - romperam-se os laços.
- E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço.
Então o amor é isso...
Não prende, não escraviza, não aperta, não sufoca.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Poema de Russel Kelfer


Você é quem é por uma razão.

Você faz parte de um plano complexo.

Você é uma criação original, preciosa e perfeita,

denominada como notável homem ou mulher de Deus.




Você tem essa aparencia por uma razão.

Nosso Deus não cometeu nenhum erro.

Ele o teceu no útero,

você é exatamente o que Ele quis fazer.

Os pais que você teve foram escolhidos por Ele,

e, a despeito de seus sentimentos,

eles foram feitos sob medida para os

planos que Deus tem em mente,

e estão aprovados pelo Senhor.



Não, aquele trauma que você enfrentou não foi fácil.

E Deus chorou por aquilo o ter machucado tanto;

mas foi permitido para moldar seu coração

para que você crescesse à sua imagem.



Você é quem é por uma razão.

Você vem sendo moldado pela vara do Senhor.

Você é que é, amado,

por que há um Deus!



(Extraído do livro "Uma vida com Propósitos", de Rick Warren. pag. 24 e 25)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O cachorro e o coelho

Eram dois vizinhos. O primeiro vizinho comprou um coelho para os filhos. Os filhos do outro vizinho, pediram um bichinho de estimação para o pai. O homem comprou um filhote de pastor alemão.

Conversa entre os dois vizinhos: - Mas ele vai comer o meu coelho! - De jeito nenhum. Imagina. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, pegar amizade. Entendo de bicho. Não vai haver problemas.

E, parece que o dono do cachorro tinha razão. Juntos cresceram e amigos se tornaram. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, felizes com a harmonia entre os dois animais. Eis que o dono do coelho foi passar um final de semana na praia com a família e o coelho ficou sozinho. Isso numa Sexta-feira. No Domingo, de tardinha, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche, quando entra o pastor alemão na cozinha. Trazia o coelho entre os dentes, todo imundo, arrebentado, sujo de sangue e terra, morto. Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo. Dizia o homem: - O vizinho estava certo, e agora? A primeira reação foi agredir o cachorro, escorraçar o animal, para ver se ele aprendia um mínimo de civilidade. - Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. - E agora? Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos. - Já pensaram como vão ficar as crianças? Não se sabe exatamente de quem foi a idéia, mas parecia infalível!- Vamos dar um banho no coelho, deixar ele bem limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na casinha no seu quintal. Como o coelho não estava muito estraçalhado, assim o fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças. E lá foi colocado, com as perninhas cruzadas, como convém a um coelho dormindo. Logo depois ouvem a os vizinhos chegarem. Notam os gritos das crianças. Descobriram! Não passaram-se cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta... Branco, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma. - O que foi? Que cara é essa? - O coelho... o coelho... - O coelho o que? - O que tem o coelho? - Morreu! - Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem. - Morreu na sexta-feira! - Na sexta? Foi. Antes de a gente viajar, as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora reapareceu!

A história termina aqui. O que aconteceu depois não importa. Nem ninguém sabe. Mas o grande personagem desta história é o cachorro. magine o pobrezinho, desde sexta-feira, procurando em vão pelo seu amigo de infância. Depois de muito farejar, descobre o corpo morto e enterrado. O que faz ele?Provavelmente com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para os seus donos, imaginando fazer ressuscitá-lo. O ser humano, continua julgando os outros pela aparência, mesmo que tenha que deixar esta aparência como melhor lhe convier. Outra lição que podemos tirar dessa história, é que o ser humano tem atendência de julgar antecipadamente os acontecimentos sem antes verificar o que ocorreu realmente. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Vamos refletir sobre isso...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Segredo do Casamento

Meus amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.
Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.
Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.
Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento - a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.
O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.
Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?
Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.
Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos.
Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.
Não existe essa tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.
Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.
Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1922, ano 38, nº. 37, 14 de setembro de 2005, página 24.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Não nascemos prontos...

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital, toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.
Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música, etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas”.
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer, etc.), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e nunca a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano 2000, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente.
Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”.
MARIO SERGIO CORTELLA, filósofo, professor da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento - Fundamentos Epistemológicos e Políticos" (ed. Cortêz/IFP), entre outros.
(Publicado em outubro/2000 na coluna "Outras Idéias" do caderno Equilíbrio da Folha de São Paulo.)

Até onde pode chegar a nobreza humana?


Uma das raras coisas boas que a TV proporcionou ao grande público foi a aproximação com a música clássica. Isso no final dos anos 80, começo de 90, quando popularizou especialmente os cantores que ficaram conhecidos como Os Três Tenores, que, como se verá, quase não existiram, ou seja: Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras.
<><><>
Com sua arte abrilhantaram diversos eventos, até mesmo Copas do Mundo de futebol!
<><><>
Os três são brilhantes (o italiano Pavarotti nem tanto, e, ao que sei, já se aposentou), mas vou tratar apenas dos espanhóis: o Madrileño Plácido Domingo tecnicamente o mais completo, já que além de maestro, toca vários instrumentos) e o Catalão, nascido em Barcelona, José Carreras (o preferido por meus ouvidos leigos).
<><><>
Mesmo os que nunca visitaram a Espanha conhecem a rivalidade existente entre os Catalães e os Madrileños, sendo que os primeiros lutam até por uma independência, pretendendo uma nacionalidade própria que não a espanhola.
<><><>
Mesmo no futebol os maiores rivais são Real Madrid e Barcelona, que exibe em seu belíssimo Estádio, o Camp Nou, o sugestivo dístico "Todas as cidades tem um time. O Barcelona é o único Time que tem uma cidade!"
<><><>
Carreras e Plácido não fugiram à regra, em 1984, por questões políticas que não vêm ao caso, tornaram-se inimigos.
<><><>
Sempre muito requisitados em todas as partes do mundo, ambos faziam constar em seus contratos que só se apresentariam em determinado show se o desafeto não fosse convidado!
<><><>
Em 1987, Carreras ganhou um inimigo muito mais implacável que Plácido Domingo, foi surpreendido com um diagnóstico terrível: leucemia!
<><><>
Sua luta contra o câncer foi sofrida e persistente. Submeteu-se a vários tratamentos, como autotransplante de medula óssea, além de troca de sangue, que o obrigava a viajar uma vez por mês aos Estados Unidos. Claro que nessas condições não podia trabalhar e, apesar de dono de uma razoável fortuna, os altos custos das viagens e do tratamento rapidamente minguaram suas finanças.
<><><>
Quando não tinha mais condições financeiras, tomou conhecimento de uma Fundação existente em Madrid com a finalidade única de apoiar o tratamento de leucêmicos! Graças ao apoio da Fundación Hermosa venceu a doença e voltou a cantar!
<><><>
Claro que recebendo novamente os altos cachês a que faz jus tratou de associar-se à Fundação e, lendo seus estatutos, descobriu que o fundador, maior colaborador e presidente da Fundação, era o desafeto Plácido Domingo!
<><><>
Descobriu ainda que o mesmo criara a entidade em princípio para atendê-lo e se mantivera no anonimato para não constrangê-lo a ter que aceitar auxílio de um inimigo. O momento mais lindo e comovente entre os dois foi o encontro, imprevisto por parte de Plácido, em uma de suas apresentações em Madrid, onde Carreras interrompe o evento e, humildemente, ajoelhando-se aos seus pés, pede desculpas e agradece-o em público. Plácido levanta-o, e com um forte abraço, os dois selam, naquele instante, o início de uma grande amizade!
<><><>
Certa vez, em Madrid, li uma entrevista de Plácido Domingo onde a repórter o indagava por que criara a Fundación Hermosa num momento que, além de beneficiar um "inimigo" ainda reviveu o único artista que poderia fazer-lhe alguma concorrência. Sua resposta foi curta e definitiva: "Por que uma voz como essa não se pode perder..."
<><><>

Autor: Rubens Nunes de Andrade

A Águia Cega


Um velho Belanca cortava os céus.
Embaixo, o rio seco estava salpicado de ilhotas.
De repente a pressão do óleo começou a baixar e o piloto resolveu pousar no primeiro lugar que aparecesse.
E este lugar surgiu sob a forma de uma ilha de tamanho considerável, que, imponentemente e sobrepujando todas as outras, era o lugar ideal para um pouso.
As rodas do Balanca tocaram suavemente o solo arenoso, num pouso perfeito.
A pane foi sanada com a colocação do óleo que, previdentemente, existia no avião para situações de tal natureza.
Antes de reiniciar a viagem, o piloto examinou aquele lugar.
A ilha, como as demais que a cercavam, só aparecia na época da seca e, em situação normal, era parte do leito do Araguaia. Lugar belíssimo, de uma areia alva e fina, cercado por águas barrentas e coberto com pedrinhas multicores, parecia um oásis perdido no deserto verdeda mata ribeirinha. O piloto decolou, levando consigo dez pedrinhas, escolhidas a dedo, que teriam finalidade dupla: seriam recordação daquele lugar fabuloso e excelente presente para sua filhinha. Assim, a ilha ficou para trás, ela pertencia ao passado; agora só uma coisa realmente interessava, a pressão do óleo, que deveria permanecer normal até a próxima etapa da rota. O tempo passou... Um tenente continuava vivendo a sua vida e uma garota loura juntara à sua coleção de bonecas um punhado de pedrinhas.
A ilha fora esquecida! Certo dia, um joalheiro famoso, ao visitar o oficial, teve a sua atenção despertada para as pedrinhas, que no momento serviam de peças num jogo de três-marias. - "Tenente, onde o senhor encontrou estes cascalhos?" Essa pergunta saiu dos lábios do visitante numa forma de súplica e intensa curiosidade.
O tenente explicou então a sua rápida permanência na ilha. - "Pois saiba", concluiu o joalheiro, "que essas pedras são pedras preciosas!" E, separando uma menor, preta, brilhante e luzidia, disse:
- "Isto é satélite de diamante; sua filha brinca de três-marias com uma autêntica fortuna. "Não é preciso dizer o que se passou com aquele oficial, nem afirmar que, a partir de então, ele foi o mais constante piloto daquela rota. O destino colocou-lhe nas mãos uma fortuna imensa; durante uma fração de tempo ele teve aos seus pés milhares e milhares de pedras preciosas e foi um autêntico Ali Babá na caverna dos quarenta ladrões. Talvez tenha sido o homem mais rico da terra naquele quarto de hora em que permaneceu na ilha! Mas o seu garimpo, aquele tesouro imenso, e a sua ilha existiam agora apenas na imaginação.
O Araguaia sepultara para sempre aquele lugar e nunca mais foi possível localizá-lo.
Todos nós, como aquele piloto, encontraremos, se já não encontramos, uma ilha no vôo de nossas vidas.
Ela conterá também um rico garimpo, o garimpo do amor, e talvez seja mais preciosa do que a ilha encontrada no Araguaia. Como aquele piloto, pousaremos despreocupados, conheceremos a ilha, que poderá ter o nome doce de uma mulher ou poderá denominar-se juventude, ou talvez seja mesmo uma ilha perdida nas praias do nordeste. Mas, se a ilusão e a ânsia por sensações novas nos fizerem decolar, sem ao menos procurarmos guardar o local onde estivemos ou deixar nele uma placa com os dizeres: "Esta ilha é minha", então levaremos somente algumas pedras preciosas, sob a forma de recordações de um beijo, de um carinho, de um mar verde e do vento, apagando na areia os nomes escritos num coração. E quando um joalheiro famoso, conhecido como o senhor Tempo, nos disser que perdemos um garimpo, voltaremos atrás, como aquele oficial, mas será tarde, porque, como o Araguaia, o passado terá sepultado a nossa ilha. Ficarão apenas, como lembranças, algumas pedras: a saudade de um nome, de um carinho, de um dia...
Autor Desconhecido