terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Laço e o Abraço

Nossa!!! Como é engraçado!...
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
Uma fita dando voltas? Se enrosca...
Mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em
qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E na fita que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então é assim o amor, a amizade, tudo que é sentimento? Como um
pedaço de fita?
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz - romperam-se os laços.
- E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço.
Então o amor é isso...
Não prende, não escraviza, não aperta, não sufoca.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Poema de Russel Kelfer


Você é quem é por uma razão.

Você faz parte de um plano complexo.

Você é uma criação original, preciosa e perfeita,

denominada como notável homem ou mulher de Deus.




Você tem essa aparencia por uma razão.

Nosso Deus não cometeu nenhum erro.

Ele o teceu no útero,

você é exatamente o que Ele quis fazer.

Os pais que você teve foram escolhidos por Ele,

e, a despeito de seus sentimentos,

eles foram feitos sob medida para os

planos que Deus tem em mente,

e estão aprovados pelo Senhor.



Não, aquele trauma que você enfrentou não foi fácil.

E Deus chorou por aquilo o ter machucado tanto;

mas foi permitido para moldar seu coração

para que você crescesse à sua imagem.



Você é quem é por uma razão.

Você vem sendo moldado pela vara do Senhor.

Você é que é, amado,

por que há um Deus!



(Extraído do livro "Uma vida com Propósitos", de Rick Warren. pag. 24 e 25)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O cachorro e o coelho

Eram dois vizinhos. O primeiro vizinho comprou um coelho para os filhos. Os filhos do outro vizinho, pediram um bichinho de estimação para o pai. O homem comprou um filhote de pastor alemão.

Conversa entre os dois vizinhos: - Mas ele vai comer o meu coelho! - De jeito nenhum. Imagina. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, pegar amizade. Entendo de bicho. Não vai haver problemas.

E, parece que o dono do cachorro tinha razão. Juntos cresceram e amigos se tornaram. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, felizes com a harmonia entre os dois animais. Eis que o dono do coelho foi passar um final de semana na praia com a família e o coelho ficou sozinho. Isso numa Sexta-feira. No Domingo, de tardinha, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche, quando entra o pastor alemão na cozinha. Trazia o coelho entre os dentes, todo imundo, arrebentado, sujo de sangue e terra, morto. Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo. Dizia o homem: - O vizinho estava certo, e agora? A primeira reação foi agredir o cachorro, escorraçar o animal, para ver se ele aprendia um mínimo de civilidade. - Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. - E agora? Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos. - Já pensaram como vão ficar as crianças? Não se sabe exatamente de quem foi a idéia, mas parecia infalível!- Vamos dar um banho no coelho, deixar ele bem limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na casinha no seu quintal. Como o coelho não estava muito estraçalhado, assim o fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças. E lá foi colocado, com as perninhas cruzadas, como convém a um coelho dormindo. Logo depois ouvem a os vizinhos chegarem. Notam os gritos das crianças. Descobriram! Não passaram-se cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta... Branco, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma. - O que foi? Que cara é essa? - O coelho... o coelho... - O coelho o que? - O que tem o coelho? - Morreu! - Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem. - Morreu na sexta-feira! - Na sexta? Foi. Antes de a gente viajar, as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora reapareceu!

A história termina aqui. O que aconteceu depois não importa. Nem ninguém sabe. Mas o grande personagem desta história é o cachorro. magine o pobrezinho, desde sexta-feira, procurando em vão pelo seu amigo de infância. Depois de muito farejar, descobre o corpo morto e enterrado. O que faz ele?Provavelmente com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para os seus donos, imaginando fazer ressuscitá-lo. O ser humano, continua julgando os outros pela aparência, mesmo que tenha que deixar esta aparência como melhor lhe convier. Outra lição que podemos tirar dessa história, é que o ser humano tem atendência de julgar antecipadamente os acontecimentos sem antes verificar o que ocorreu realmente. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Vamos refletir sobre isso...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Segredo do Casamento

Meus amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.
Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.
Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.
Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento - a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.
O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.
Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?
Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.
Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos.
Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.
Não existe essa tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.
Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.
Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1922, ano 38, nº. 37, 14 de setembro de 2005, página 24.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Não nascemos prontos...

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital, toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.
Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música, etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas”.
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer, etc.), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e nunca a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano 2000, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente.
Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”.
MARIO SERGIO CORTELLA, filósofo, professor da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento - Fundamentos Epistemológicos e Políticos" (ed. Cortêz/IFP), entre outros.
(Publicado em outubro/2000 na coluna "Outras Idéias" do caderno Equilíbrio da Folha de São Paulo.)

Até onde pode chegar a nobreza humana?


Uma das raras coisas boas que a TV proporcionou ao grande público foi a aproximação com a música clássica. Isso no final dos anos 80, começo de 90, quando popularizou especialmente os cantores que ficaram conhecidos como Os Três Tenores, que, como se verá, quase não existiram, ou seja: Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras.
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Com sua arte abrilhantaram diversos eventos, até mesmo Copas do Mundo de futebol!
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Os três são brilhantes (o italiano Pavarotti nem tanto, e, ao que sei, já se aposentou), mas vou tratar apenas dos espanhóis: o Madrileño Plácido Domingo tecnicamente o mais completo, já que além de maestro, toca vários instrumentos) e o Catalão, nascido em Barcelona, José Carreras (o preferido por meus ouvidos leigos).
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Mesmo os que nunca visitaram a Espanha conhecem a rivalidade existente entre os Catalães e os Madrileños, sendo que os primeiros lutam até por uma independência, pretendendo uma nacionalidade própria que não a espanhola.
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Mesmo no futebol os maiores rivais são Real Madrid e Barcelona, que exibe em seu belíssimo Estádio, o Camp Nou, o sugestivo dístico "Todas as cidades tem um time. O Barcelona é o único Time que tem uma cidade!"
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Carreras e Plácido não fugiram à regra, em 1984, por questões políticas que não vêm ao caso, tornaram-se inimigos.
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Sempre muito requisitados em todas as partes do mundo, ambos faziam constar em seus contratos que só se apresentariam em determinado show se o desafeto não fosse convidado!
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Em 1987, Carreras ganhou um inimigo muito mais implacável que Plácido Domingo, foi surpreendido com um diagnóstico terrível: leucemia!
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Sua luta contra o câncer foi sofrida e persistente. Submeteu-se a vários tratamentos, como autotransplante de medula óssea, além de troca de sangue, que o obrigava a viajar uma vez por mês aos Estados Unidos. Claro que nessas condições não podia trabalhar e, apesar de dono de uma razoável fortuna, os altos custos das viagens e do tratamento rapidamente minguaram suas finanças.
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Quando não tinha mais condições financeiras, tomou conhecimento de uma Fundação existente em Madrid com a finalidade única de apoiar o tratamento de leucêmicos! Graças ao apoio da Fundación Hermosa venceu a doença e voltou a cantar!
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Claro que recebendo novamente os altos cachês a que faz jus tratou de associar-se à Fundação e, lendo seus estatutos, descobriu que o fundador, maior colaborador e presidente da Fundação, era o desafeto Plácido Domingo!
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Descobriu ainda que o mesmo criara a entidade em princípio para atendê-lo e se mantivera no anonimato para não constrangê-lo a ter que aceitar auxílio de um inimigo. O momento mais lindo e comovente entre os dois foi o encontro, imprevisto por parte de Plácido, em uma de suas apresentações em Madrid, onde Carreras interrompe o evento e, humildemente, ajoelhando-se aos seus pés, pede desculpas e agradece-o em público. Plácido levanta-o, e com um forte abraço, os dois selam, naquele instante, o início de uma grande amizade!
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Certa vez, em Madrid, li uma entrevista de Plácido Domingo onde a repórter o indagava por que criara a Fundación Hermosa num momento que, além de beneficiar um "inimigo" ainda reviveu o único artista que poderia fazer-lhe alguma concorrência. Sua resposta foi curta e definitiva: "Por que uma voz como essa não se pode perder..."
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Autor: Rubens Nunes de Andrade

A Águia Cega


Um velho Belanca cortava os céus.
Embaixo, o rio seco estava salpicado de ilhotas.
De repente a pressão do óleo começou a baixar e o piloto resolveu pousar no primeiro lugar que aparecesse.
E este lugar surgiu sob a forma de uma ilha de tamanho considerável, que, imponentemente e sobrepujando todas as outras, era o lugar ideal para um pouso.
As rodas do Balanca tocaram suavemente o solo arenoso, num pouso perfeito.
A pane foi sanada com a colocação do óleo que, previdentemente, existia no avião para situações de tal natureza.
Antes de reiniciar a viagem, o piloto examinou aquele lugar.
A ilha, como as demais que a cercavam, só aparecia na época da seca e, em situação normal, era parte do leito do Araguaia. Lugar belíssimo, de uma areia alva e fina, cercado por águas barrentas e coberto com pedrinhas multicores, parecia um oásis perdido no deserto verdeda mata ribeirinha. O piloto decolou, levando consigo dez pedrinhas, escolhidas a dedo, que teriam finalidade dupla: seriam recordação daquele lugar fabuloso e excelente presente para sua filhinha. Assim, a ilha ficou para trás, ela pertencia ao passado; agora só uma coisa realmente interessava, a pressão do óleo, que deveria permanecer normal até a próxima etapa da rota. O tempo passou... Um tenente continuava vivendo a sua vida e uma garota loura juntara à sua coleção de bonecas um punhado de pedrinhas.
A ilha fora esquecida! Certo dia, um joalheiro famoso, ao visitar o oficial, teve a sua atenção despertada para as pedrinhas, que no momento serviam de peças num jogo de três-marias. - "Tenente, onde o senhor encontrou estes cascalhos?" Essa pergunta saiu dos lábios do visitante numa forma de súplica e intensa curiosidade.
O tenente explicou então a sua rápida permanência na ilha. - "Pois saiba", concluiu o joalheiro, "que essas pedras são pedras preciosas!" E, separando uma menor, preta, brilhante e luzidia, disse:
- "Isto é satélite de diamante; sua filha brinca de três-marias com uma autêntica fortuna. "Não é preciso dizer o que se passou com aquele oficial, nem afirmar que, a partir de então, ele foi o mais constante piloto daquela rota. O destino colocou-lhe nas mãos uma fortuna imensa; durante uma fração de tempo ele teve aos seus pés milhares e milhares de pedras preciosas e foi um autêntico Ali Babá na caverna dos quarenta ladrões. Talvez tenha sido o homem mais rico da terra naquele quarto de hora em que permaneceu na ilha! Mas o seu garimpo, aquele tesouro imenso, e a sua ilha existiam agora apenas na imaginação.
O Araguaia sepultara para sempre aquele lugar e nunca mais foi possível localizá-lo.
Todos nós, como aquele piloto, encontraremos, se já não encontramos, uma ilha no vôo de nossas vidas.
Ela conterá também um rico garimpo, o garimpo do amor, e talvez seja mais preciosa do que a ilha encontrada no Araguaia. Como aquele piloto, pousaremos despreocupados, conheceremos a ilha, que poderá ter o nome doce de uma mulher ou poderá denominar-se juventude, ou talvez seja mesmo uma ilha perdida nas praias do nordeste. Mas, se a ilusão e a ânsia por sensações novas nos fizerem decolar, sem ao menos procurarmos guardar o local onde estivemos ou deixar nele uma placa com os dizeres: "Esta ilha é minha", então levaremos somente algumas pedras preciosas, sob a forma de recordações de um beijo, de um carinho, de um mar verde e do vento, apagando na areia os nomes escritos num coração. E quando um joalheiro famoso, conhecido como o senhor Tempo, nos disser que perdemos um garimpo, voltaremos atrás, como aquele oficial, mas será tarde, porque, como o Araguaia, o passado terá sepultado a nossa ilha. Ficarão apenas, como lembranças, algumas pedras: a saudade de um nome, de um carinho, de um dia...
Autor Desconhecido